quarta-feira, 12 de maio de 2010

Frejat no Cultural – Intimidade e maturidade.




Combinar rock e maturidade é um desafio que já derrubou muito ícone do primeiro escalão desse gênero musical, mas pelo que pode ser visto em seu show apresentado no Cultural na última sexta-feira,o cantor, guitarrista e compositor Roberto Frejat, tem boas chances de se sair bem dessa difícil travessia. Os acertos já começam com cuidado visual, sem excessos de mega-produção, mas o suficiente para delimitar um novo momento na trajetória do artista. Depois das cores compartilhadas com o cena “new wave” nos anos 80, do impacto “rock’n’roll-jaqueta-de-couro” dos tempos mais “hard” do Barão já sem Cazuza, e até do discreto flerte com o universo eletrônico dos 90, a impressão imediata é de um visual mais “classudo”, sugerindo algo do blues e do jazz da primeira metade do século passado. Ternos, gravatas, chapéus (e um fundo vermelho), remetendo a épocas em que música e máfia andavam bem perto e a malandragem musical tinha classe e elegância. Clássico, mas com malandragem!

E estão aí duas palavras que se aplicam bem ao show. “Clássico”: é difícil não perceber o valioso lote de canções de primeira linha do pop e do rock brasileiro que passam pelo palco e o quanto elas já estão entranhadas no imaginário de sucessivas gerações de ouvintes. “Malandragem”, além de ser um dos hits certeiros que perpassam o repertorio, é uma boa definição para a forma esperta e lícita com a qual Frejat amarra sucessos compostos por ele - mas apresentado ao público por outras vozes (como Cássia Eller, no caso da canção já citada) -, apropriações extremamente adequadas de clássicos criados por companheiros de geração (como Renato Russo), verdadeiros hinos roqueiros compostos para o Barão, e o refinado pop rock de seus trabalhos solo (muitas vezes contando com o auxílio luxuoso de parceiros, como o letrista Alvin L, autor da genial “Homem não Chora” e um dos melhores do rock brasileiro embora ainda de reconhecimento limitado).

Outro tiro certeiro é a banda, que transita de forma precisa por toda a versatilidade do repertório, aliando bom gosto e energia ao passar pelas baladas poéticas, pelos indispensáveis momentos blues, pelo apelo dançante de hits como “Puro Êxtase” e “Bete Balanço”, até o peso necessário aos momentos de retorno à origem roqueira do cantor. Vale destacar que outra boa volta a origem, é a presença, nos teclados e na produção do CD, do parceiro dos primeiros tempos do Barão, Maurício Barros.

Talvez maturidade seja algo por aí, lançar mão da bagagem acumulada em décadas de estrada com equilíbrio e bom gosto, mas sem perder a vitalidade essencial ao rock. Se me permitem uma jogada com o título do álbum de 2009, “Intimidade entre Estranhos”, a sensação geral foi mais de “intimidade” do que de estranhamento. Frejat, banda e seu público, pareciam totalmente em casa, se revendo, como velhos amigos.

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