sábado, 29 de maio de 2010

Vandré, “Das Terras de benvirá”: Utopia e barbárie na MPB





Apesar da minha filiação ao tropicalismo e ao rock, como algumas das minhas principais influências, sempre me impressionou a força épica que a voz e melodias de Geraldo Vandré (representante fundamental da “canção de protesto”) imprimiam a seus versos contundentes. Particularmente me marcou muito a intensidade e integridade do álbum “Canto Geral” (1968), ao passo que este “Nas terras do benvirá”, que ouvi pela primeira vez na mesma época em que conheci o anterior, sempre me pareceu inacessível. Arrastado, triste, sombrio e sempre em tom de lamento, ele não me conquistou nas primeiras tentativas, embora de tempos em tempos eu retornasse a ele, talvez por algum incomodo profundo que ele me causasse.


Hoje à luz de uma nova audição, quase três décadas após a aquisição do vinil, e talvez, sensibilizado pelo excepcional documentário “Utopia e Barbárie”( de Silvio Tendler) fui arrebatado exatamente pelos mesmos aspectos que me afastaram nas primeiras tentativas (mistérios da experiência estética!). Numa despretensiosa retomada desta obra, já nos primeiros minutos ela me soou como um dos mais dramáticos registros do sentimento de toda uma geração diante da barbárie impostas pela ditadura.


Inevitável não me remeter ao mistério que cerca a figura do compositor, entre lendas (descartadas pelo próprio) sobre torturas (que teriam culminado em castração e na conseqüente loucura), o silêncio artístico de décadas (quebrado pela estranheza de uma canção em homenagem à Força Aérea), e o isolamento pessoal e em relação à música popular (já que segundo o próprio, ele teria se tornado ouvinte de música clássica, e se desinteressado pela MPB).


Respeitado o direito de um homem a dar sua própria versão de sua história, ou o direito a silenciar sobre ela, me sinto no entanto, no direito de manifestar meus sentimento ao ouvir novamente este desconcertante álbum. Na minha impressão de ouvinte, poucos discos transmitem com uma carga de tristeza tão profunda, o sentimento de uma geração que teve sonhos, liberdades e até vidas ceifadas pela ditadura.


O simples fato de ter sido gravado em pleno exílio, nos primeiros anos da década de 70 (os créditos são de 73, mas cheguei a achar referências de que teria sido gravado na França em 1970 e só lançado no Brasil, 3 anos mais tarde), já permitiria uma leitura nesse sentido, mas o principal aval para uma interpretação dessa natureza está nas características estéticas que predominam no LP.


A instrumentação, predominantemente arrastada e melancólica, compõe um tecido sombrio que flui como um lamento visceral que não pode (ou não quer) se conter e que parece não se esgotar em cada canção... parece antes, continuar mesmo após o fim de cada faixa, seja porque o sentimento segue na memória, após a audição, como um moto perpétuo... seja porque prossegue na canção seguinte, da mesma forma que os dias de uma tristeza não curada se sucedem quase indistintos para quem os vivencia.


A interpretação de Vandré que oscila entre o sussurro e o grito parece à todo momento um choro viril, como o de um guerreiro ferido em combate, em diálogo constante com a harmônica de uma tristeza cortante entrelaçada aos fraseados melancólicos dos violões, violas e aos eventuais vocais sobrepostos.


Em aparente contradição com o que o tratamento musical aponta, o texto da canção de abertura “Na terra como no céu”, anuncia: “Não viemos por teu pranto/nem viemos pra chorar/viemos ao teu encontro/e estamos no teu altar/vou seguir nosso caminho/que é também seu caminhar/na força do teu carinho/esperamos nos salvar/na terra como no céu/no sertão como no mar/nas serrar ou nas planuras/esperamos nos salvar/estando sempre altura/nos teus caminhos lutar/reparte entre nós o pão/diante do seu altar/a justiça e a riqueza/que fizemos por ganhar”(...).


A busca por justiça social que pautou os principais trabalhos sessentistas de Vandré se mntém como força motriz, mas o tom de súplica religiosa, não oculta um certo sentimento de impotência diante da realidade:”não deixa a gente passar/pela fome em tua mesa/não viemos por teu pranto/nem viemos pra chorar”. Curiosamente, a essa frase se segue um belissimo e sofrido vocal que arrepia por seu tom de lamento. Contradição, ou intencional efeito irônico?


É dificil não associar os versos sofridos que se seguem (na faixa que dá título ao disco) ao contexto de ditadura, de censura e momento de um homem que canta no exílio: “O anel que tu me deste/eu quardei pra me ajudar/construi numa viola/de madeira o teu altar/o amor que tu me tinhas/eu roubei pra me salvar/toda hora em que a danada da saudade/me pega/Joema dos olho claros/bem verdes das cor do mar/me dava tanta alegria/que eu não preciso sonhar/basta me lembrar agora/das coisas que deixei lá/Joema sempre esperando/na praia do grande mar/Waldomiro das estrelas/não podia se encontrar/tinha tudo que queria/dizia tudo há pintar/olhando pro céu de frente/perdido sempre em chegar/Waldomiro das estrelas/pedia para voltar”.


A certeza messiânica de quem escreveu “quem sabe faz a hora/ não espera acontecer”, ou “o terreiro lá de casa não se varre com vassoura/varre com ponta de sabre e bala de metralhadora”, dá lugar à perplexidade e a um desamparo que pede por redenção: “que faço agora Maria/que faço agora diz já/ de longe que eu ouço hoje/as coisas que vão voltar/em ti em ti e comigo/agora no Deus dará/das coisas de todo mundo/na vida do bendirá”


Mas o tom aguerrido do militante da “canção de protesto” permanece vivo em “Vem vem” : “morena saia da frente/que agora eu já vou passar/vem vem maria/vem vem joão/
vem virgulino meu capitão/eu canto canto/eu brigo a briga/porque sou forte e tenho razão/saia da minha frente/que agora eu quero passar/vai companheiro/vai meu irmão/no paraíso canta a canção/que diz da vida/que diz da morte/que anda solta no meu sertão/vem vem maria/vem vem joão/vem virgulino meu capitão/eu tomo a vida que esta na morte/se a morte as vezes é solução”. A retomada da figura mítica do cangaceiro pode sugerir uma analogia com a condição de marginalidade à qual fora relegada a resistência política ao regime. Contra a violência estatal, só a violência clandestina que se torna aos olhos da oficialidade, análoga ao “banditismo”?


E a dor do exílio salta de novo das entrelhinhas de “Canção primeira”, assim como a impossibilidade de ações efetivas que encontram seu substituto simbólico na “canção primeira/ livre e livradeira”: “A canção primeira/como a derradeira/não vá, te negar/A canção primeira/sem eira e nem beira/é só te lembrar/Na viola amiga,/que é chegada antiga/pra te acompanhar/Da canção primeira/livre e livradeira/que eu quero te dar/Compreende amiga/que eu não marque ainda/quando te encontrar/Que eu faça cumprida,/tanto quanto a vida/que foi só cantar/Dessa história antiga,/às vezes cantiga/pra eu poder contar/De ti companheira,/tu de corpo inteira/como eu pude amar/E perdoa amiga,/que eu não vá /correndo/hoje te abraçar/Nem cortar caminho,/nessa caminhada/que é pra te encontrar/Que eu guarde a esperança,/que vem vindo o dia/de poder voltar/Sem ter na chegada,/que morrer amada,/ou de amor matar”.


Se um dia teremos uma versão completa sobre a história desse grande artista da nossa canção e que possa desmentir ou confirmar as lendas que o cercam, é impossível prever. Mas o que parece certo após a audição de “Nas terras do benvirá” é o quanto o período ditatorial representou um desvio traumático na sua trajetória artistica e existencial, assim como de outros contemporâneos. Se realmente os militares não tocaram em Vandré, como o proprio afirmou em entrevistas, é inegável que o contexto de repressão e censura interrompeu de forma brutal uma trajetória publica que poderia ter legado uma contribuição ainda mais rica a tradição da canção de temática social.


Faixas
1 Na terra como no céu
(Geraldo Vandré)
2 Das terras de benvirá
(Geraldo Vandré)
3 Vem, vem
(Geraldo Vandré)
4 Canção primeira
(Geraldo Vandré)
5 De América
(Geraldo Vandré)
6 Sarabanda [A festa do Lobisomem]
(Tema livre de Geraldo Vandré)
7 Maria memória da minha canção
(Geraldo Vandré)
8 Bandeira branca
(Geraldo Vandré)

Para baixar: http://loronix.blogspot.com/2006/09/geraldo-vandre-das-terras-de-benvira.html

quarta-feira, 26 de maio de 2010

CORREDOR CULTURAL - A EFERVESCÊNCIA DE JF NAS RUAS E NOS PALCOS



A grande pedida para o próximo final de semana é o “Corredor Cultural”, grande mostra que vai reunir varias áreas da cultura em torno das comemorações do aniversário de Juiz de Fora. O Corredor Cultural, que acontece no sábado e domingo (dias 29 e 30 de maio) ao longo de todo dia e em vários pontos da cidade, vai reunir elenco bastante representativo da produção juizforana.


Já na parte da manhã de sábado, à partir das 9 horas se apresentam no Parque Halfeld, o Grupo de Dança Macauã, seguido do Grupo de Tambor Ingoma e do Grupo de Acordeonistas do Pró-Música. Blocos de carnaval animam a tarde à partir do 12 h, fechando com um cortejo de artistas, o bloco Parangolé Valvulado, com concentração às 17 h, também no Parque Halfeld.

Lapa de Juiz de Fora - Já a Praça da Estação, será a Lapa de Juiz de Fora, das 3 da tarde até à noite com muito samba por conta dos grupos: Semente de Bambas, Bateria da Mocidade de São Mateus e Instituto de Cultura do Samba, Bacharéis do Samba, Eterno Aprendiz, Nascimento e Banda, Flavinho da Juventude e Sandra Portela e Noca da Portela e Grupo DNA.


As atrações musicais do sábado à noite passam também pelo Parque Halfeld, às 20 H 30 com a Orquestra Voadora, do Rio de Janeiro e pelo Teatro Central com um show do Grupo Lúdica Música, às 21 horas, ao mesmo tempo em que o Duo Blues se apresenta na Biblioteca Murilo Mendes.

Música por toda madrugada - A música segue no Centro Cultural Bernardo Mascarenhas, com Forró de Raiz do cearense Geraldo Jr, às 23h30; e invade a madrugada de domingo com o grupo Darandinos à 1 h da manhã, seguido dos grupos Silva Soul, 3,2,Único, Zona Blue e Trio de Janeiro, que abre o dia com o show de título irônico “Café com Restos Humanos”, às 5h 30 da manhã.

Domingueira - A programação musical de domingo tem seqüência na Praça Antônio Carlos às 11 H 30, com o grupo de música infantil Trupicada, com o Festival de Bandas Novas, à partir das 13h30, banda Shumma, às 16 h, Matilda às 16h30, Quinteto São do Mato, às 17 h e Eminência Parda às 18h30. E a Praça da Estação volta a ser a Lapa de Juiz de Fora às 20 H, com o show especial de encerramento, que fica por conta do sambista Jorge Aragão.


Bom, nosso objetivo foi só dar uma leve noção (centrada na programação musical) do porte desse segundo Corredor Cultural promovido pela Funalfa. Como se trata de uma programação muito diversificada e que inclui também atrações em bairros e diversas manifestações culturais além da música, o ideal é que os interessados em assistir aos eventos procurem o material com a programação completa no Centro Cultural Bernardo Mascarenhas, ou na Própria Funalfa, na Av. Rio Branco, 2.234, no Parque Halfeld.


Outras informações pelo fone 3690-7044 ou pelo site www.pjf.mg.gov.br. Os shows são todos gratuitos, mais vale lembrar que para alguns dos eventos em espaços fechados é necessário retirar convites antecipados gratuitamente na própria Funalfa.

quarta-feira, 19 de maio de 2010

Erasmo Carlos - De volta ao rock



O palco do teatro Central recebe no próximo dia 21, sexta-feira um dos pioneiros do rock brasileiro, aos 68 anos em um de seus momentos de grande forma como compositor. O cantor vem com a turnê de divulgação de seu ótimo “Rock’n’roll”, álbum em que o Erasmo volta às suas origens roqueiras, com bom gosto, toques de modernidade e principalmente, ótimas canções. A turnê que iniciou-se no final do ano passada é a primeira do artista, após cinco anos fora dos palcos.

O show logicamente deve contar com clássicos do naipe de “Detalhes” e “Sentado à beira do caminho”, mas poder conferir ao vivo novo um lote de excelentes canções, promete boas emoções, como diria o parceiro Roberto.

Seu mais recente CD, “Rock’n’roll”, o coloca de novo na devida posição de personagem fundamental da nossa tradição músical, mas sem a acomodação que possam estar associadas a um posto tão confortável. O com um espírito renovado e inquieto, embora fiel a à sua essência, o álbum volta a provar que o principal alicerce do estilo são as boas canções.

Seja nos momentos em que assume música e letra, como Jogo Sujo ("Com a dama escondida na manga/ O mundo me chamou pra jogar/ Vítima de tal esperteza/ Pus a vida na mesa e resolvi topar/ Apostei no risco/ Paguei e não vi/ Morri na praia/ E além de morrer sofri"), ou em parcerias bem entrosadas, com nomes como, Nelson Motta, Chico Amaral, Liminha, Patrícia Travassos e Nando Reis – o que se houve é um Erasmo em sua melhor forma como compositor. Lirismo, auto-ironia, declarações de amor às mulheres e ao rock’n’roll, estão na pauta em melodias e versos certeiros.

A produção do (também veterano) Liminha, é inteligente e sensível ao dar sutis toques de modernidade às canções, ao mesmo tempo em que preserva a essência sessentista do roqueiro, revalorizada e lapidada, e contando traçando uma ponte com a nova geração através da participação dos novatos da banda retrô “Filhos de Judith”, que se destacam principalmente pelas ótimas vocalizações.

E já que citamos a parceria, vale comentar que com tantos holofotes apontados durante décadas sobre a estrela de seu principal parceiro, Roberto Carlos, talvez Erasmo tenha ficado um pouco obscurecido se levarmos em conta a contribuição que o artista tem dado a música brasileira.

Sem esquecermos sua parceria com o “Rei”, sua carreira marcada pela inquietude por guinadas inesperadas, fizeram dele sempre um personagem único no rock brasileiro, e provavelmente o que melhor transcendeu os limites da Jovem Guarda. “Rock’n’roll”, vem reforçar a certeza da importância do músico e traz bons ares ao rock brasileiro com poesia e atitude.

O show de Erasmo Carlos, acontece na sexta, dia 21, às 21h, no Cine-Theatro Central. Outras informações pelo telefone (32) 3215-1400.

Para ouvir:
http://www.coqueiroverderecords.com/erasmocarlos/erasmocarlos.htm

quarta-feira, 12 de maio de 2010

Apollo: Nova safra das Gerais resgata boas sonoridades setentistas



Mais uma boa retomada de referências do rock setentista e da música mineira vem do “além” decolando direto para o “espaço”. O “além” em questão é na verdade a cidade de Além Paraíba, de onde vem a banda “Apolo”. O nome remete à corrida espacial e a uma das melhores épocas da música, e que parece ser a base principal do som da banda:as décadas de 60 e 70.

Com uma sonoridade que abraça boas baladas folk e a estruturação instrumental progressiva, o grupo conta com belas melodias, arranjos elaborados e excelentes vocalizações, produzindo uma sonoridade que remete a bandas como “O Terço”, Karma, Mutantes (da fase progressiva), Casa das Máquinas, “14 Bis”, entre outros. O resultado pode garantir umas boas "viagens", embora sem excessos ou riscos de overdose.

Além do repertório autoral o grupo inclui em seus shows um bom apanhado de clássicos brasileiros e gringos que vão do progressivo (Focus), clássicos do rock (Stones, Doors, Joe Coker e Santana), até a mineiridade do Clube da Esquina. Uma mostra consistente do que o grupo vem produzindo, está disponibilizada para download no site do grupo (com ilustrações do quase juizforano Fred Antunes):
http://www.bandaapollo.com/

Vale conferir!

Lívia Lucas no Cultural - Uma festa da nova música juizforana




O último show da temporada juizforana da cantora Lívia Lucas, que volta para os palcos da Europa já no final desse mês, promete ser uma verdadeira celebração da cena atual da MPB da cidade. O evento acontece na sexta-feira, dia 14, no Cultural Bar, e além do show da cantora, que lotou o teatro pró-música em sua recente apresentação, terá ainda na abertura o quinteto São do Mato, e o fechamento da banda Sambavesso.

A presença juiforana dá o tom também ao repertório do álbum “Canto de Casa”, de Lívia Lucas, lançado inicialmente na Europa, e que traz vários nomes da nova geração local, como Kadu Mauad, Lucas Soares, Anderson Guimarães, Dudu Costa e o gaúcho naturalizado juizforano, Arnaldo Huff. No show, muito swing e brasilidade e a presença também de clássicos da música popular brasileira, conduzidos por um time de excelentes instrumentistas e a presença de palco marcante de Lívia.

SÃO DO MATO

Abrindo a noite com seu som instrumental elaborado que transita por vários ritmos, que vão das raízes brasileiras à musicalidade do oriente médio, São do Mato é um dos grupos de destaque da nova safra juizforana, tendo inclusive levado seu trabalho ao palco do mitológico Circo Voador, no Rio de Janeiro.

SAMBAVESSO

Por sua vez o grupo Sambavesso, traz uma mistura que tem o samba e a energia do rock como fios condutores, passando por todo um amplo cardápio de ritmos afro-americanos, e que lhe valeu a participação (na categoria revelação) no projeto Música Minas que visava divulgar a música do estado, em outras capitais brasileiras.

Pelo "espaço":
http://www.myspace.com/quintetosdm
http://myspace.com/livialucas
http://www.myspace.com/sambavesso

"A última noite de um bamba" - Geraldo Pereira em foco.




Um dos grandes nomes da história do samba, o compositor juizforano Geraldo Pereira é o tema do espetáculo “A última noite de um bamba”. A partir de uma abordagem multimídia que lança mão de música, elementos de teatro e vídeo, o espetáculo tem na dança sua linguagem central, e se propõe, através desse conjunto de expressões, a narrar os últimos passos do compositor, nascido em 1918 e morto em 1955.

As coreografias mostram o funcionamento da gafieira, seu cotidiano, seu estatuto de comportamento social. Além, é claro, dos fundamentos da dança de salão, sua complexidade por ser uma dança compartilhada com o outro, seus códigos como a ”ronda”, o convite para dançar, o cavalheirismo, a feminilidade exigida.

Nascido em Juiz de Fora, Geraldo Pereira foi um dos inovadores da música brasileira, criando o samba sincopado que seria uma das influencias fundamentais da bossa nova. Compos grandes clássicos como “Sem Compromisso” e “Falsa Baiana”, “Acertei no Milhar”, “Escurinha” e “Bolinha de Papel”.

“A última noite de um bamba” fica em cartaz durante todo o mês de maio, no espaço de dança “Estação Cultural” sempre aos sábados e domingos, às oito e meia da noite. O Estação Cultural fica na Praça da Estação, Rua Halfeld , 235 (Juiz de Fora - MG). Outras informações podem ser obtidas pelo Telefone: (32) 3216-1742.

Frejat no Cultural – Intimidade e maturidade.




Combinar rock e maturidade é um desafio que já derrubou muito ícone do primeiro escalão desse gênero musical, mas pelo que pode ser visto em seu show apresentado no Cultural na última sexta-feira,o cantor, guitarrista e compositor Roberto Frejat, tem boas chances de se sair bem dessa difícil travessia. Os acertos já começam com cuidado visual, sem excessos de mega-produção, mas o suficiente para delimitar um novo momento na trajetória do artista. Depois das cores compartilhadas com o cena “new wave” nos anos 80, do impacto “rock’n’roll-jaqueta-de-couro” dos tempos mais “hard” do Barão já sem Cazuza, e até do discreto flerte com o universo eletrônico dos 90, a impressão imediata é de um visual mais “classudo”, sugerindo algo do blues e do jazz da primeira metade do século passado. Ternos, gravatas, chapéus (e um fundo vermelho), remetendo a épocas em que música e máfia andavam bem perto e a malandragem musical tinha classe e elegância. Clássico, mas com malandragem!

E estão aí duas palavras que se aplicam bem ao show. “Clássico”: é difícil não perceber o valioso lote de canções de primeira linha do pop e do rock brasileiro que passam pelo palco e o quanto elas já estão entranhadas no imaginário de sucessivas gerações de ouvintes. “Malandragem”, além de ser um dos hits certeiros que perpassam o repertorio, é uma boa definição para a forma esperta e lícita com a qual Frejat amarra sucessos compostos por ele - mas apresentado ao público por outras vozes (como Cássia Eller, no caso da canção já citada) -, apropriações extremamente adequadas de clássicos criados por companheiros de geração (como Renato Russo), verdadeiros hinos roqueiros compostos para o Barão, e o refinado pop rock de seus trabalhos solo (muitas vezes contando com o auxílio luxuoso de parceiros, como o letrista Alvin L, autor da genial “Homem não Chora” e um dos melhores do rock brasileiro embora ainda de reconhecimento limitado).

Outro tiro certeiro é a banda, que transita de forma precisa por toda a versatilidade do repertório, aliando bom gosto e energia ao passar pelas baladas poéticas, pelos indispensáveis momentos blues, pelo apelo dançante de hits como “Puro Êxtase” e “Bete Balanço”, até o peso necessário aos momentos de retorno à origem roqueira do cantor. Vale destacar que outra boa volta a origem, é a presença, nos teclados e na produção do CD, do parceiro dos primeiros tempos do Barão, Maurício Barros.

Talvez maturidade seja algo por aí, lançar mão da bagagem acumulada em décadas de estrada com equilíbrio e bom gosto, mas sem perder a vitalidade essencial ao rock. Se me permitem uma jogada com o título do álbum de 2009, “Intimidade entre Estranhos”, a sensação geral foi mais de “intimidade” do que de estranhamento. Frejat, banda e seu público, pareciam totalmente em casa, se revendo, como velhos amigos.

PICASSOS FALSOS (1987) – ABRINDO AS PORTAS PARA A MODERNA MÚSICA BRASILEIRA.



Voltando às “esbarradas” com velhos vinis pelo caminho, a capa desse primeiro álbum da banda carioca “Picassos Falsos” veio me perseguindo nas últimas semanas. Primeiro na parede do Cultural Bar, onde eu bati o olho por acaso e me espantei com a constatação de como esse disco tinha ficado esquecido em função do “Supercarioca” (segundo álbum da banda) ter se tornado o trabalho mais reconhecido da banda e como mesmo este ainda merece um lugar mais sólido nas listas dos discos fundamentais do rock brasileiro.

Depois disso topei com a referida capa no Museu do Disco e quase comprei de novo o álbum, mesmo já tendo ele em casa. Me veio a sensação de que este disco estava pedindo para ser re-ouvido e comentado à luz de todo esse tempo que nos separa dos longínquos anos 80 (mais precisamente 1987). Bom... e quando o espírito de velhos discos fala... é melhor obedecer! Então, lá vai:

O vinil abre já de cara com “Carne Osso”, na minha visão, sem dúvida uma das melhores e mais originais canções do rock brasileiro de todos os tempos! A abertura com a batera hipnótica de Abílio Rodrigues, seguida dos efeitos psicodélicos magistralmente conduzidos por Gustavo Corsi e o baixo sinuoso de Zé Henrique antecipam toda a carga explicitamente sensual que da tom da música. Um perfeito hit underground que ainda hoje soa esteticamente transgressivo. Humberto Effe transitando entre momentos de suavidade e agressividade, com um timbre rasgado extremamente original, lança versos que ainda hoje soam definitivamente modernos: “Você é minha cadeia/ enjaulado fico preso no teu corpo/ você caça em suas teias/ como seu escravo/selvagem não me canso/ pra que fugir me entregar é a única saída/ como seu escravo me perdi na sua selva/ meu coração preso nessa cela abre as pernas da tua paixão (...)”.

O processo se encaminha num crescendo hipnótico parecendo querer conduzir a um profano transe xamânico urbano, algo como um Jim Morrisson tropicalista impregnado pelo niilismo do pós-punk. “Enquanto feras estão soltas você me tortura a cada carência/ a cada violento arranhão/ se pensa que isso é paixão/esqueça!/ certas coisas não se sentem só no coração(...) o mundo anda mal/mas sou eu quem não presto/ sou resto de uma idéia de uma nova rebeldia/ o povo dessa terra se balança de alegria vejo a tristeza se encharcar de euforia(...)”. Era um correspondente digno e totalmente brasileiro (sem nenhum teor de cópia) da reapropriação que no momento, bandas gringas como Echo and The Bunnymen e The Cult, faziam do lado mais sombrio dos anos 60, no que na época ficou conhecido como “neo-psicodelismo”.

E merece uma reflexão à parte, a premonitória citação do samba “Se Você jurar”, de Ismael Silva, que parece trazer embutidas, sugestões de todo um leque de diálogos possíveis entre a moderna música pop e a tradição brasileira, que viriam a se concretizar somente a partir da década seguinte (fora outros pioneiros oitentistas como a banda Fellini e os Paralamas).

Vale lembrar que em 87, a regra ainda era mimetizar as influencias mais relevantes do rock gringo contermporâneo (o que muitas vezes foi feito com muita categoria) e que uma reaproximação com leituras mais “pós-tropicalistas” do rock, assim como uma reabilitação de referências sessentistas e setentistas, viriam a se delinear muito lentamente.

Talvez a sequência com “Quadrinhos” (sem dúvida a produção mais próxima de uma linguagem pop no álbum) possa causar um certo baque para o ouvinte que tenha embarcado de cabeça na onda lissérgica da primeira faixa, mas a qualidade e o pique da canção valem o risco. Um dos bons hits dos 80, ela revela claramente que uma das fontes centrais da mistura do “Picassos” estava na Black music dos anos 60 e 70. Um funk “racha assoalho” na linha James Brown, com a proposta de fazer dançar e pensar, meta que a lírica de Humberto Effe cumpre com perfeição: “Meu amor olhe pros lados/desde criança só lemos os quadrinhos dos jornais”.

A pressão dançante prossegue com versos ainda mais afiados em “Que horas são”: “Em cada natureza de concreto/de barulho alto/ um pouco da mentira que me cerca (...) por isso a cada passo desconfio da minha própria sombra/ a guerra pode ser declarada e desabar um circo sem lona/(...) O tique taque dos relógios ........... os meus riscos/ de ganhar ou de perder/ num planeta de reis e submissos/ganhar, comprar, vender, ser cada vez mais rico/ é a sua missão/ para depois morrer como seus inimigos”.

A incorporação de ritmos brasileiros à guitarras “na pressão”, começa a se tornar mais evidente nas faixas seguintes. O tom subjetivo sucede à crítica social: “Nunca espere muita coisa da minha razão/ às vezes posso entrar em guerra comigo mesmo/ nunca espere muita coisa da minha paixão/ raciocinar demais pode ser o meu defeito/ Ligo a TV/ ligo o rádio/ligo tudo/ mas não me ligo em nada/ estou mudo/ fico parado esperando o rápido ruído de alguém como você/ bater à porta”. A condução “guitarreira’ abre caminho para o futuro do rock nacional, alguns decibéis acima da pressão que predominava no cenário brazuka até então.

O swing black segue embalando versos ácidos e sombrios, retrato fiel da visão crítica profunda que a geração 80 vivenciou: “Qual a censura que vai cortar nossos pulsos/ A cor do nosso sangue já cai demais por aí/ ficamos bêbados/largados imundos/ procurando um chão/ou qualquer canto pra dormir/jogados como todos estão jogados/ nesse mundo que é uma máscara/ Levanto tarde/O sol e o seu retrato/ Simplesmente uma nova esperança(...) Eu posso ser o próximo herói e depois virar um inimigo nacional/ ou também posso ser nada um vira-lata que perdeu a noção entre o bem e o mal”.

Não há dúvida que a herança niilista do punk está nas entrelinhas de versos como os de “Um bebado”, assim como a desconfiança em relação à Nova República, ao esboço de democracia, a uma sociadade padronizadora... sobra disso tudo resguardar alguma subjetividade e afetividade: “O que a gente não consegue responder/ é pra que lado ainda se pode caminhar/(...) Tropeço nos meus próprios passos/ nos mesmos buracos luto pra não mais cair/(...) sou civilizado/bem educado/ando perfumado como um bom rapaz/ os meus pecados sou eu mesmo quem faço/mas os meus direitos nunca sei quem faz/que tal a gente relaxar um pouco/você me quer e eu quero tanto você/ se ainda nos escondem um milhão de coisas/ esse amor é que a gente ainda pode viver”.

E o rock maracatu pré-Chico Science, “Idade Média” salta como um dos pontos altos pouco valorizados do disco, e seu esquecimento é uma perda inestimável para a história do rock brasileiro. Além de musicalmente arrombar a porta que separava os anos 80 dos 90, tem um dos grandes textos do rock brazuka e uma sonoridade ímpar. Com seu refrão síntese “tente não vestir o índio que existe em você”, essa música merece figurar entre os hinos do rock nacional. Ao lado, por exemplo, de “Ideologia”, e “Geração Coca Cola”, está entre as melhores reflexões sobre a alienação e ainda tem muito a dizer sobre os dias em que vivemos.

“O ronco dos motores cega seus ouvidos/a luz dos refletores ensurdece seu olhar/ (...) que futuro pode rolar de suas mãos/se você vê de tudo e finge não saber de nada/ e nenhuma palavra a essa hora pode mais te iludir/tente de vez esquecer esse planeta/ caia na farra dance, dance, dance/ até a madrugada cair/ deixando de lado essa cara mau encarada/ nas ruas mau iluminadas/ enquanto a bomba não vem/ (...) nossa tribo já chegou bem mais perto da destruição/ nossa tribo, hoje em dia/ fala bem menos com o coração (...)”.

Depois de toda essa selvageria, “Olhos Mudos” funciona como um bônus lírico e novamente extremamente original, com uma percussão afro em meio a efeitos psicodélicos introduzindo um romantismo áspero: “Buscando o infinito cato a minha mente/ que não capta um ponto além/ da minha vontade perdida de viver/ Sinto e não sinto nada/ varo a madrugada sem novas companhias/ (...) Minha vida ainda é pouca pra virar pó/ nas ruas cada vez mais sujas/ procuro encontrar no mundo/ algo além de mim/ Mas sei seus olhos estavam mudos/ficaram prendendo nossos sonhos sem volta”. Fim de uma viagem experimental-dançante-psicodélica em busca de novas fronteiras para o rock e a música brasileira. Essa jornada teria uma segunda sequência ainda mais primorosa no álbum seguinte: o “Supercarioca”.

O preço por dar alguns bons passos à frente de seu tempo e por viver num tempo de rápidas reviravoltas econômicas, estéticas e mercadológicas, parece que já foi pago e alto! Agora, pode ser um bom momento para receber o devido reconhecimento pelo vanguardismo tão necessário e por ter ajudado abrir portas por onde muitos passaram com relativa facilidade rumo à respeitabilidade musical e até ao sucesso mercadológico. Que venha!

terça-feira, 4 de maio de 2010

Duty Botti abre “Encontro de Compositores”



Acontece na proxima segunda-feira (dia 10 de maio), às 21 horas, mais uma edição do encontro de compositores, evento que vem divulgando a produção autoral de Juiz de Fora e que acontece sempre na "segunda segunda-feira" de cada mês no bar Cai e Pira, em São Pedro. Nessa edição, o poket show que abre cada encontro terá como compositor do mês o violonista e cantor Duty Botti.

Nascido em Juiz de Fora, Minas Gerais, no dia 08 de Novembro de 1950. Filho de Pianista, cresceu ouvindo música clássica. Tendo atuado desde os 16 anos grupos e orquestras, como a “Cassino Royalle”, tendo sido inclusive guitarrista da orquestra “A Grande Chance” de Flávio Cavalcante.

Amante da “Bossa Nova” e suas harmonias, tocou com muitos músicos da “Noite” em Belo Horizonte, Paraná, São Paulo e Rio de Janeiro, sempre estudando música e compondo. Além de seu trabalho pessoal como compositor, Dutty criou arranjos e tocou em inúmeros CDS autorais em vários estados brasileiros,participando também de shows com músicos como Nelson Ângelo, João do Valle, Emmerson Nogueira, Ana Carolina, Dudu Lima, Márcio Hallack, Dudu Vianna, Berval Moraes entre outros.

No exterior, fez uma temporada européia com mais de 40 shows, tendo recebido comentários elogiosos da crítica Portuguesa e Espanhola. Gravou dois CDS autorais: “A Barca da Gente” e “Nova Bossa Nova”. Trabalha em seu Studio em Juiz de Fora, onde faz arranjos para diversos músicos, teatros e cria Jingles comerciais. Atualmente compõe e elabora seu trabalho para lançar seu primeiro DVD.

Vale reforçar que o Encontro de compositores acontece toda "segunda segunda-feira" do mês, começando sempre com um poket show de abertura, ficando o espaço livre após o show para os músicos que queiram apresatar até duas composições próprias as inscrições são feitas durante o próprio encontro.

Algumas mostras do trabalho de composição de Dutty Botti podem ser conferidas na página do Encontro no myspace:
http:/www.myspace.com/encontrodecompositoresjf, ou na página do próprio Dutty: http:/www.myspace.com/dutybotti

Music For Zen Meditation And Other Joys - Tony Scot, Shihichi Yuize e Hozan Yamamoto. 1964, Tokyo, Japan


Dentro da proposta “outros sons” desse blog, voltar de vez em quando aos bons vinis me parece praticamente inevitável. E particularmente diante de certos achados casuais como o que me ocorreu na última segunda-feira. Passando o olhar acidentalmente por uma banca que não era o meu objetivo inicial, me deparei com uma capa com uma imagem de um Buda e o título “Music For Zen Meditation”. Meu primeiro impulso foi de passar batido, pois pensei se tratar de mais um disco de música para relaxamento com barulho de água e pássaros (nada contra, mas não era esse meu foco no momento).

Talvez pelo fato de se tratar de vinil e por associar (erroneamente) new wage a algo mais da era do CD, resolvi parar e examinar. Ao ver entre os instrumentos utilizados o clarinete (um timbre que me agrada muito e que cheguei até, desastradamente a tentar aprender) resolvi dar mais atenção. Resultado: acabei comprando o referido álbum, que tem sido um dos recordistas de audição da semana, com riscos de atentar contra a integridade da cópia, de tanto ouvir.

Parando para examinar com mais calma descobri que se tratava de uma edição brasileira, do selo norte-americano de jazz Verve de um vinil gravado originalmente em 1964 por Tony Scott(e relançado pela Polygram em 1988, no Brasil). Scott era então,tratado na imprensa dos EUA como “nosso melhor clarinetista contemporâneo”, aclamado por publico e critica no mundo do jazz mas no referido álbum,traçou uma respeitosa ponte “intercultural” alguns anos antes da contracultura colocar o oriente na pauta do dia.

Sua parceria com os músicos Shihichi Yuiz (koto), Hozan Yamamoto (shakuhachi) acontece dentro do limite estrito da música clássica japonesa, mas traz uma contribuição significativa: o improviso do jazz como método. Vale lembrar que essa prática jazzística, apesar de ausente na música clássica, ou tradicional japonesa, se afina muito com a espontaneidade proposta pelo Zen Budismo (não é talvez à toa que os poetas da geração beat tenham se interessado tanto pelo jazz quanto pela prática Zen).

É interessante aqui citar um trecho do elucidativo texto de Allan Watts, no encarte que acompanha o álbum: “Zen é um modo de vida (não uma teoria) através do qual as pessoas sentem a si mesmas não como seres isolados, mas como um com todo o universo, do qua cada indivíduo é uma expressão única. Assim sendo, o artista Zen coloca sua destreza e seu instrumento (...) a serviço do Tao, o Caminho da Natureza, de modo a que sua arte se torne tão natural quanto as nuvens e as ondas – que nunca cometem erros estéticos. Como diz um poema Zen chinês: No cenário da primavera não há nada superior, nada inferior;Os galhos que brotam são naturalmente uns curtos, uns longos.(...”).

É bom alertar que não há no disco o virtusismo, a rítmica, ou qualquer traço de harmonia ou fraseados jazzísticos, não se trata de nenhum tipo de fusion. A proposta é realmente de respeito à música japonesa, mas com a contribuição do método espontâneo de criação coletiva que é um dos diferenciais primordiais do jazz: a improvisação.

Talvez no mundo do jazz essa ponte intercultural não tenha sido tão bem vista, como dá para pressentir por este comentário encontrado no blog Jazzseen: “Antes de mergulhar no nebuloso mundo da world music trazido pela década de 1960, Tony produziu excelentes álbuns dentro da escola branca do bop”. (http://blogs.abril.com.br/jazzseen/2006/09/day-in-new-york-tony-scott.html).
Purismos à parte, prefiro colocar a música e seus efeitos acima de fidelidades estilísticas. Com certeza não é um disco para aplicar pros amigos numa festa, nem para mostrar como o “cara” é um virtuose, mas realmente, não é essa a intenção aqui.


Num momento em que até os reticentes médicos ocidentais passam a indicar a meditação como ferramenta auxiliar no tratamento e prevenção de vários males, esse álbum pode ser um bom companheiro para colocar o espírito num ritmo mais humano. A sensação natural é de desaceleração e tranqüilidade, efeitos místicos outros, ficam por conta do freguês. Scott e seus amigos japoneses parecem simplesmente absortos num fluxo musical natural , o que inevitavelmente nos leva a associação a expressões como “vazio iluminador”, “experiência oceânica”, “religare”. Mas é bom frisar que, em primeira instância, o melhor, é que se trata de música, e da boa!



Ouça sem preconceitos e sem pressa!

http://musique.fnac.com/a1901994/Tony-Scott-Music-for-zen-meditation-CD-album

domingo, 2 de maio de 2010

DARANDINOS E SAMBAVESSO NO CONEXÃO VIVO



A edição juizforana do Projeto Conexão Vivo acontece nos dias 7, 8 e 9 de maio, totalizando 14 atrações em shows gratuitos na praça Antônio Carlos, sempre à partir das 18 horas. A programação inclui ainda uma série de oficinas culturais e as informações podem ser obtidas pelo fone (32) 3690-7036.

Darandinos é destaque juizforano no evento – A música juizforana vai estar representada dentro da programação do Conexão Vivo pela banda Darandinos, escolhida a partir de votação direta no site do projeto e que vai se apresentar entre um elenco de ponta da música mineira que inclui nomes como o Falcatrua, Maurício Tizumba, Marku Ribas, Gilvan de Oliveira, Titane, Pereira da Viola, entre outros. Outro destaque juizforano é Dudu Costa (um dos vocalistas do Sambavesso) como convidado do show do Falcatrua.

Sambavesso fecha a programação de sábado do Conexão - O grupo “Sambavesso” fecha a programação de sábado (8 de maio)do Conexão Vivo em Juiz de Fora com um show na “Conectando – Festa do Conexão Vivo”. A celebração acontece no Bar da Fábrica na praça Antônio Carlos. O show terá abertura do Dj Luiz PF (Vinyl Land), à partir das 23 h. Outras Informações, pelo fone (32) 3215-0910.


Para conferir:
myspace.com/darandinos
myspace.com/sambavesso

Eminência – Mostras do DVD no “space” e pocket shows


Enquanto o primeiro DVD não sai do forno, o Eminência vem disponibilizando algumas mostras do trabalho no seu “space”. A primeira foi “Tardes de Verão”: na versão ao vivo, o romantismo “psicodélico-simbolista” composto pelo guitarrista Danniel Goulart, ganhou uma pressão mais hard e um instrumental de nuances progressivas. A música composta ainda na adolescência, já entrou pra história de algumas gerações que acompanham o trabalho da banda e tem muitos motivos para puxar a divulgação do primeiro registro do grupo em DVD.

A segunda disponibilizada a invocar bons fluídos e espantar maus espíritos é “Hoje pode Ser”. Vinda do segundo CD da banda (“Cidade Sob a Chuva”), a música funciona como uma prece “neo-tropicalista-carnavalesca” que culmina com uma citação do antológico samba-enredo de 1979 da escola juizforana “Juventude Imperial”, composto por Flavinho, Chiquinho e Kelmer.

E sem data prevista ainda para o lançamento do DVD, o Eminência optou por descansar carregando pedra em aparições relâmpago em pocket shows de abertura no Cultural Bar. O próximo rola na sexta, dia 07 de maio, antes do show do cantor e guitarrista Frejat.

Para conferir, o “space” do Eminência é: www.myspace.com/eminenciaparda

Gil – Sem medo da morte e com sabedoria (impressões do show BandaDois – Teatro Central JF 29/04/2010)



Da mesma forma que é estimulante ver o Caetano da fase “Cê” assumindo suas fragilidades, angustias e raivas como um adolescente da “melhor idade” e expressando isso numa linguagem musical quase rock e cheia de “arestas insuspeitadas”(como diria o próprio) – é uma experiência intensa ver o Gil brindar a platéia com o vinho da sabedoria acumulada em sua prolífica trajetória, no show BandaDois.

“Sabedoria”? Sim! Essa me parece uma ótima palavra para a impressão global transmitida pelo show apresentado no Teatro Central, desde que se dispa a palavra sabedoria de qualquer sombra de moralismo. A sabedoria de uma vivência musical e existencial sem dogmas, que se permitiu passar por “várias” e trazer na bagagem uma serenidade inquieta, de quem está longe de se acomodar.

Um presente especial à parte, foi a participação de Milton Nascimento (e de dois músicos de sua banda) para o bis que culminou com um belo ritual, no qual Gil e ele desceram para a plateia entoando o ‘refrão-mantran-afro” da canção “Babá Alapalá”. Uma sábia reverência a ancestralidade africana. O encontro de dois ícones da musicalidade afro-brasileira traçou novamente a ponte mágica “Minas/Bahia” que as parcerias entre os dois representam tão bem. Mas antes desse clímax, muita água boa já havia rolado.

Apresentando uma mostra generosa da vasta reflexão “filosófico-poético-musical” que Gil vem legando à música brasileira em sua longa estrada, o show teve um inevitável tom de maturidade e serenidade, sem deixar de ser lúdico e instigante.

A palavra “sabedoria” pode ser aplicada também ao tratamento instrumental, a um só tempo econômico e rico, preciso e elegante. Seus arranjos acústicos apoiados nas cordas (violão e voz de Gil, o violão de seu filho, Bem Gil, e o cello de Jacques Morelenbaum), são um tratamento perfeito para revelar toda poesia e musicalidade das canções .

O repertório reuniu clássicos próprios (“Flora”, “Super-Homem”,”Lamento Sertanejo” “Metáfora”, “Panis et Circenses” “Refavela” e “Refazenda”), canções inéditas (“Das duas, uma” e “Quatro coisas”), e autores fundamentais à formação do artista, como Dorival Caymmi e Jackson do Pandeiro (afinal, faz parte da sabedoria saber prestar tributo aos mestres precursores).

Me perdoem a insistência, mas, de sabedoria também é o tom que emana da inédita “canção/conselho/reflexão” feita a pedido de uma de suas filhas como presente de seu casamento: "Se forem hábeis e sábios e sãos/ Saberão ser amáveis e tempo terão/ Para fazer da vida a dois, dois chumaços de algodão"...

Vale destacar que um dos pontos altos do show foi a interpretação dramática para uma de suas canções (relativamente) mais recentes. Gravada inicialmente no CD “Banda Larga Cordel”, “Não tenho medo da morte” é daquelas músicas que já nasceram “clássicas” e que crescem em humanidade no palco. A interpretação seca, permeada de vários momentos soturnos, beira o assustador em certos trechos, não fosse a leveza e irreverência com que o tema é habilidosamente trabalhado pelo artesão.

A coragem com que Gil encara a face da morte e o inevitável medo... coragem de ter medo... fortaleza de se assumir frágil...humano... é tocante e ao mesmo tempo transmite uma sobriedade impressionante: “não tenho medo da morte/ mas sim medo de morrer/qual seria a diferença/você há de perguntar/é que a morte já é depois/que eu deixar de respirar/morrer ainda é aqui/ na vida, no sol, no ar/ainda pode haver dor/ou vontade de mijar/ a morte já é depois/já não haverá ninguém/como eu aqui agora/pensando sobre o além...”

Como no nonsense de um conto Zen, a impressão é de que, do topo da montanha, o sábio cancionista contempla o caminho trilhado, enquanto se prepara para continuar a subida e nos brindar com novas e boas safras de seu vinho...
Que venham breve!

sábado, 1 de maio de 2010

FERRO VELHO NO ESPAÇO


O rock setentista dá a tônica ao som que a banda mineira Ferro Velho, vem fazendo com muito conhecimento de causa. Enquanto amadurecia e digeria bem referências da nata do rock gringo e de sons brazukas como Som Imaginário, Sá, Rodrix e Guarabira, O Terço, Mutantes e Secos e Molhados, o grupo veio produzindo um convincente leque de canções roqueiras neo-setentistas que podem ser conferidas no “space” do grupo.

As letras acompanham bem a pressão hard do som, prestando um bom tributo a referências chaves como a Rita Lee dos primeiros álbuns pós-mutantes, ou à irreverência psicodélica do Som Imaginário e dos Mutantes.

Outra curiosidade que vale conferir é o clip da música “Antítese” postado no youtube, e que remete ao clima retro da banda, colocando a vocalista Monique para dirigir um fusca pelo espaço e ir parar na lua, onde a banda manda seu som.
É a primeira banda juizforana no espaço!
Impagável!!!


http://vids.myspace.com/index.cfm?fuseaction=vids.individual&videoid=103571522

http://www.myspace.com/bandaferrovelho

Subtropcais - Rock Gaúcho com brasilidade



O Rock gaúcho já encontrou seu lugar há algum tempo no cenário do pop brasileiro, apesar disso, há algum tempo uma dada banda me parece negligênciada em comparação com uma certa ênfase dada às bandas neo-sessentistas mais tributárias das influências gringas. O que me chamou a atenção nos “Subtropicais” foi exatamente suas referências mais pós-tropicalistas que dão à banda um tom bem diferencial em relação a parte de seus conterrâneos mais cotados pela crítica.

As referências principais aqui são também o rock sessentista e setentista, mas com um bom trânsito pelo samba, ritmos nordestinos, Secos e Molhados e logicamente, tropicalismo.

O instrumental rico e seguro, no entanto não fica no simples saudosismo, revisitando essas referências de forma bem contemporânea e pessoal.
São destaque também as boas letras que bebem na fonte da MPB setentista, mantendo um certo tom poético, sem excessos, e que passam bem longe da indigência dos clichês roqueiros atuais que circulam pela grande mídia e até por parte da cena independente. Vale muito à pena conferir o “space” da galera:
www.myspace.com/subtropicais

Pedro Santos - Krishnanda (1968)


Bom... a idéia inicial de fazer esse blog era de postar comentários, sem exatamente uma pretensão crítica, sobre sons encontrados pelo “Myspace” (daí o nome “pelo espaço”) que me impressionassem por algum motivo e que me parecessem que valesse à pena compartilhar. No entanto respeitando o direito à contradição, já começo fugindo a idéia inicial, em função do impacto e estranheza causado pelo álbum em questão (daí o acréscimo dos “outros sons” ao título do blog).

Descobri esse disco de 1968 por aplicação do blog ‘Brazilian Nuggets” e chapei com a originalidade do som, das letras (de misterioso tom místico) e com a constatação do desconhecimento histórico em torno de um trabalho, que, se parece um estranho no ninho em relação à época em que veio à luz, não me parece que seja menos especial passado todo esse tempo.

Permitindo-se uma liberdade rara, Santos alia idéias harmônicas da bossa-nova, swing e arranjos de metais do jazz e do samba-jazz,formas musicais que se aproximam do pop africano e de elementos de música indiana. Um destaque especial é uso primoroso da percussão, lançando mão de kalimbas, chocalhos d’água, berimbaus, tambores, e xilofone na maioria das vezes, de forma bastante peculiar.

Emolduram ainda a voz áspera do cantor, orquestrações usadas com rara sensibilidade, indo de ataques de metais que remetem ora a tradição de Orquestras como a Tabajara, ora a arranjos do Modern Jazz Quartet e em momentos mais épicos, a orquestrações wagnerianas.

Segundo os textos postados no blog em “Brazilian Nuggets”, poucas são as informações sobre Pedro Santos e sua trajetóra, ou sobre o próprio álbum Krishnanda, assim o melhor é ouvir e tirar suas próprias conclusões.

Boa audição!

Onde conferir:
http://brnuggets.blogspot.com/2010/01/pedro-santos-krishnanda-1968.html