terça-feira, 20 de julho de 2010

Sá e Guarabyra, Flávio Venturini e 14 Bis no Festival de Inverno de Mariana (MG)


Num momento em que muitos encontros musicais são realizados “à muque”, visando os óbvios resultados mercadológicos da junção de públicos, um “ajuntamento” como o que uniu (no Festival de Mariana, dia 17 de Julho) a dupla Sá e Guarabyra, o cantor, compositor e tecladista Flávio Venturini e o grupo 14 Bis, ajuda a lembrar que houve uma época em que as afinidades pessoais e musicais estavam acima da eficiência das vendas. Tratam-se de trabalhos e pessoas que têm uma história de links reais e cujos encontros geraram frutos que marcaram várias gerações e o show, sem didatismos conseguiu passar um pouco dessa história.

A dupla Sá e Guarabyra, abriu a noite mostrando como dois violões, duas vozes, e um repertório de excelentes canções de veia “folk estradeira” podem dar conta de segurar uma multidão bastante heterogênea (principalmente em termos de faixa etária). Apesar das décadas que se passaram e da recente baixa com a morte do insubstituível Zé Rodrix, o repertório “rock rural” de tons hippies, produzido quando os três talentos trocaram suas já respeitadas trajetórias individuais para formar o grupo que foi uma das fortes referências para a juventude do início dos anos 70, ainda guarda um apelo essencial.

Sem dúvida clássicos como “A primeira canção da estrada” e “Me faça um favor” estão ainda entre os pontos altos do show, mas a rápida repassada por clássicos de outras fases, como”Sobradinho”, e os hits “Dona” e o tema feito para a novela “Roque Santeiro”, provam que os dois artistas não ficaram aprisionados nesse momento chave de sua trajetória. Infelizmente o formato de um encontro dessa natureza acaba fazendo com que trabalhos mais recentes como “Jesus numa moto, “Outra vez na Estrada” , “No tempo de nossos sonhos”, presentes no repertório da volta do trio, ou as canções inéditas do último CD gravado com Rodrix em 2008 lançado, postumamente em 2010, acabem ficando de fora, o que é uma pena, já que seriam a definitiva prova dos nove.

Depois de um show com um inevitável “gosto de quero mais”, as conexões vão sendo traçadas, com Sá contando a história da situação em que, no início dos anos 70 eles pediram ao cantor Milton Nascimento que indicasse um tecladista para a banda de apoio da dupla e foram apresentados ao jovem Flávio Venturini, que passaria a integrar a formação clássica do Terço (que incluía o Futuro integrante do 14 Bis, Sérgio Magrão), banda que acompanhou a dupla na época e que fez as bases do clássico LP “Nunca”. Essa foi a deixa para “Criaturas da Noite”, parceria de Sá e Venturini e música título de um dos discos mais emblemáticos do Terço e do progressivo brasileiro.

Na seqüência, Flávio Venturini e sua banda de apoio apresentaram uma série de clássicos da carreira solo do músico, intercalados por composições de parceiros mineiros como “Clube da Esquina 2” de Lô Borges, A elegância da MPB de tons pop e executada por uma excelente banda, do show de Flávio Venturini, criou uma boa dinâmica entre a magia acústica de Sá e Guarabyra e rock clássico do 14 bis.

Já a veterana banda mineira mostrou porque foi uma das responsáveis pela consolidação do estilo no Brasil, na transição entre os 70 e os 80. Conjugando energia e riqueza instrumental, a vocalizações de inspiração sessentista (grupos como Byrds, Beatles e o próprio Terço, do qual herdou a dupla Flávio e Magrão), o grupo mostrou a mesma coesão e energia dos primeiros tempos. Arrematando os significados daquele encontro o grupo foi o mestre de cerimônias para o final apoteótico, chamando ao palco Flávio Venturini, membro fundador de sua primeira formação e depois Sá e Guarabyra. Parcerias como “Espanhola” (de Flávio e Guarabyra) e “Caçador de Mim” (Magrão e Sá), mostraram novamente o grau de afinidade entre os artistas.

Mas para não abrir mão da veia natural do brasileiro de se julgar “reformador do mundo”, é difícil deixar de imaginar o que seria o resultado de um encontro ainda mais orgânico, que incorporasse efetivamente Flávio Venturini à formação do 14 Bis para o espetáculo inteiro e com o grupo fazendo a vez de banda de apoio para as canções solo de seu antigo tecladista, assim como para as músicas de Sá e Guarabyra. Seria fabuloso ouvir o peso roqueiro e o virtuosismo da banda aplicado a músicas como “Mestre Jonas”, “Hoje ainda é dia de rock” e a recente “São Tomé”(do último álbum com Rodrix), que cairia como uma luva no instrumental do 14 Bis. Quem sabe um dia...?

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